Todo mundo se comunica: Conversações sem barreiras

Autoria: Yuri Santana Lira, graduando em Letras (2º semestre, 2024.2) – UFGD

Você já presenciou um momento em que não conseguia se expressar claramente com palavras? Então, vamos entender como como ir além das palavras e fazer o uso de recursos linguísticos distintos, para melhorar as interações sociais.

Ao analisarmos o contexto educativo, principalmente em um cenário de convivência de diversas línguas, é necessário que os sujeitos nativos de línguas diferentes da língua dominante regional recebam um tratamento acolhedor, para que possam melhor se adaptar diante das situações de multilinguismo. Dessa maneira, a translinguagem é inclusiva, pois utiliza diferentes recursos no momento da comunicação humana. Em vez de tratar a língua como um sistema único e intocável, a translinguagem considera as particularidades dos sujeitos bi/multilíngues na construção de saberes e, para tanto, busca compreender como os sujeitos utilizam os mais variados recursos para se comunicarem, não se limitando, necessariamente, a comunicação verbal tradicional que já é bem difundida em nossa sociedade.

Veja, pense na série The OA. Sabe aquele momento em que a OA e o Homer utilizam movimentos para expressar frustração (no caso da OA) e arrependimento (no caso do Homer), como forma de comunicação? Então, o conceito de translinguagem é isso aí! Trata-se de usar, à sua maneira, meios de comunicação que diferem do convencional (Norma Padrão da língua portuguesa) para construir saberes e diálogos, tendo como apoio linguístico toda uma base sócio-histórica construída gradativamente na vivência individual do sujeito.

Fonte: Imagem gerada pelo ChatGPT

Diante do exposto, o presente texto tem como objetivo divulgar os seguintes artigos: “Práticas de translinguagem com estudantes multilíngues em uma escola de fronteira” e “Translinguagem no ensino de escrita”, ambos redigidos pelas professoras Thayse Figueira Guimarães, Edilaine Buin e Rosana Iriani Daza de Garcia da UFGD, além do artigo “Práticas Translíngues como recurso no acolhimento de migrantes venezuelanos em sala de aula de língua portuguesa”, escrito pelas professoras mencionadas anteriormente, com o acréscimo de Cristiene Oliveira Ribeiro.

Para não ficarmos apenas na cultura pop, vamos nos aprofundar nos artigos citados para obter uma visão mais prática dessa temática nos ambientes escolares, está bom? No cenário atual, presenciamos um grande movimento migratório no Brasil e Dourados, por ser um município fronteiriço, recebe uma grande quantidade de migrantes. Dessa forma, com o acréscimo significativo desses sujeitos em nosso contexto social, surgem questionamentos sobre acessibilidade, oportunidades e inclusão, denunciando a falta de metodologias de ensino, por exemplo, focadas no acolhimento desses migrantes em nossa sociedade.

Assim, com o objetivo de minimizar essa falta de acolhimento o projeto “Por uma ecologia multilíngue nas escolas de fronteira”, desenvolvido no Colégio Municipal Clarice Bastos Rosa, em Dourados/MS, buscou desenvolver atividades referentes à integração de alunos migrantes, a partir de práticas inclusivas que estimulam o desenvolvimento linguístico dos menores. Dessa forma, buscou-se uma interação que considera a subjetividade individual de cada aluno, afinal, todos nós temos a língua como algo em comum. Para tanto, nesse contexto em que a língua é a representação cultural do sujeito, é necessário compreender as particularidades e bagagens desses alunos, para que ocorra uma interação de qualidade em relação à comunicação no ambiente escolar. Desta forma, por meio de atividades adaptadas, foram desenvolvidas práticas que promovem o uso do idioma nativo das crianças em interface com o português, partindo do princípio de que, no processo de aprendizado da língua portuguesa, é de extrema importância o uso da língua materna para melhor compreensão e interação dos alunos bi/multilíngues com a nova língua.

“O bilinguismo é dinâmico de modo que os falantes incorporam novos elementos em seu sistema linguístico e aprendem a usar seletivamente diferentes elementos de seu próprio repertório para se comunicar. Nesse horizonte, não existe um falante bilíngue completamente equilibrado: os estudantes bi/multilíngues estão constantemente negociando seu repertório linguístico complexo e dinâmico para se ajustar à situação de aprendizado em questão, às vezes, numa ocasião, suprimindo certos elementos, noutra, aproveitando-os.” (Buin; Guimarães; Garcia, 2024, P 294)”

Em suma, no processo de aprendizado da língua desejada, as autoras dos artigos mencionados utilizam mecanismos criativos para que a comunicação e o aprendizado dos estudantes ocorra de forma integrada com a língua nativa. Assim, essas práticas têm como objetivo proporcionar aos jovens alunos um espaço acolhedor em que eles possam ficar à vontade para utilizarem suas respectivas línguas maternas.

Por fim, convidamos ao leitor atento a se enveredar, mais profundamente, nas questões relacionadas ao bilinguismo, multilinguismo e translinguagem no ambiente escolar, a partir dos textos elencados nas referências. Isso permitirá uma visão mais ampla da problemática educacional enfrentada pelas escolas no que se refere à inclusão de sujeitos migrantes, bem como na utilização de práticas translíngues como auxílio no processo de aprendizagem e interação entre alunos e professores.

Referências

GUIMARÃES, Thayse Figueira; BUIN, Edilaine; GARCIA, Rosana Iriani Daza de. Práticas de translinguagem com estudantes multilíngues em uma escola de fronteira. Temas & Matizes (Online), v. 17, p. 289-314, 2024.

GUIMARÃES, Thayse Figueira; BUIN, Edilaine; GARCIA, Rosana Iriani Daza de; RIBEIRO, Cristina Oliveira. Práticas translíngues como recurso no acolhimento de migrantes venezuelanos em sala de aula de língua portuguesa. Revista X, v. 15, p.83, 2020.

GUIMARÃES, Thayse Figueira; GARCIA, Rosana Iriani Daza de. Translinguagem no ensino de escrita: Reflexões sobre língua(gem) em contextos de ensino. 1. ed. Palmas-TO: EDUFT, 2024. p. 328-366.