Autoria: Anne Gomes, graduanda em Letras (4º semestre, 2024.2) – UFGD
A literatura pode nos transportar para outros mundos e tem o poder de mostrar o que está escondido em nossa realidade. Já parou para pensar em como as histórias que lemos podem nos fazer refletir sobre problemas que, muitas vezes, preferimos ignorar? Uma dessas questões dolorosamente presente em nossa sociedade e, frequentemente silenciada, é a violência contra a mulher. Vamos juntos desvendar como a literatura pode revelar essa realidade? Mas, antes de mergulhar nessa temática, vamos entender alguns conceitos importantes:
- Violência: vai além da agressão física, podendo ser psicológica ao humilhar e/ou controlar alguém; ou simbólica, quando se diminui o valor de uma mulher na sociedade. A obra de Josefina Plá, por exemplo, expõe a violência simbólica ao retratar como as vozes femininas são silenciadas.
- Subalternidade: significa estar em uma posição inferior na sociedade, à margem, sem voz ou poder.
- Violência de gênero: ocorre quando alguém sofre agressões por causa de seu gênero. Essa violência, na maioria dos casos, é praticada por homens contra mulheres e nasce da desigualdade entre os gêneros.
O que a literatura tem a dizer sobre isso?
O objetivo desse artigo é divulgar o estudo de Hans Stander Loureiro Lopes e Rosana Cristina Zanelatto Santos sobre os contos de Rubem Fonseca. Esses contos exploram como a violência e o poder se entrelaçam na vida urbana, influenciando relações de dominação e subordinação. Embora Fonseca não trate exclusivamente da violência de gênero, ele nos mostra como a violência, em todas as suas formas, é um mecanismo de controle social profundamente enraizado em nossa sociedade. Essa perspectiva nos ajuda a entender que a violência contra a mulher não é um caso isolado, mas parte de um sistema maior de desigualdade.
Assim, os contos analisados por Hans Stander Loureiro Lopes e Rosana Cristina Zanelatto Santos evidenciam personagens que vivem em uma sociedade em que a brutalidade e a opressão são frequentes. Isso nos convida a refletir na seguinte questão: como podemos mudar essas dinâmicas de poder? O estudo de Lopes e Zanelatto não apenas aprofunda a crítica sobre a obra de Fonseca mas, também, nos provoca a pensar como essas estruturas sociais acabam perpetuando a violência contra a mulher até os dias atuais.
E a presença das mulheres na literatura?
Na reflexão sobre a participação das mulheres na literatura, mencionamos o estudo de Facunda Concepción Mongelos Silva e Rosana Cristina Zanelatto Santos, que focalizam a representação das mulheres na obra de Josefina Plá. Nesse caso, a violência não é apenas física e se revela, também, de forma psicológica e simbólica, mostrando as consequências do colonialismo e do patriarcado em nossa sociedade. Plá nos apresenta personagens femininas que enfrentam múltiplas camadas de opressão, seja pelo simples fato de serem mulheres, seja por sua raça e/ou classe social.
Essas personagens subalternas são um retrato de como as mulheres sofrem em sistemas de dominação que as colocam em posições de vulnerabilidade. A interseccionalidade — ou seja, a intersecção entre diferentes formas de opressão — ajuda a compreender como raça, gênero e classe se combinam para amplificar a violência desse grupo.
Por que isso importa?
A análise dessas obras nos mostra que a literatura funciona como um espelho da sociedade, refletindo e criticando as estruturas que perpetuam a violência contra a mulher. Ao retratar a violência de gênero, tanto Rubem Fonseca quanto Josefina Plá revelam como essas dinâmicas de poder operam em diferentes contextos. Dessa forma, Fonseca nos mostra como a violência é usada como ferramenta de controle e dominação, ao passo que Plá expõe como as mulheres subalternas enfrentam uma opressão advinda do período colonial e patriarcal. Essa conexão nos faz entender que a violência contra a mulher não é um problema isolado e está estruturado em distintas áreas da sociedade.
E agora?
Nosso objetivo aqui foi convidar você, leitor, a refletir sobre essas questões e a perceber como a literatura pode nos ajudar a enxergar o que muitas vezes está camuflado. Se essas questões despertaram sua curiosidade, que tal explorar os textos elencados nas referências e continuar essa jornada de descobertas? Lembre-se de que a luta contra a violência de gênero começa com a compreensão de como ela está enraizada em nossas estruturas sociais. Mais do que nunca, precisamos de vozes — reais e literárias — que desafiem essas dinâmicas e inspirem mudanças.
REFERÊNCIAS
LOPES, Hans Stander Loureiro; SANTOS, Rosana Cristina Zanelatto. Subalternidade, poder e violência em contos de Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca. Revista Rascunhos Culturais, Coxim, MS: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, v. 10, n. 20, p. 51, jul./dez. 2022.
SILVA, Facunda Concepción Mongelos; SANTOS, Rosana Cristina Zanelatto. As personagens subalternas em Josefina Plá. Revista Rascunhos Culturais, Coxim, MS: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, v. 10, n. 20, p. 51, jul./dez. 2019.