
Autoria: Lorena Marciano, graduanda em Letras (2º semestre, 2024.2) – UFGD.
A visibilidade de autoras femininas na literatura é uma questão de justiça social e cultural que impacta profundamente a forma como percebemos o papel das mulheres. Historicamente, a produção literária das mulheres foi amplamente ignorada e/ou desvalorizada e a crítica literária feminista surge como uma resposta a essa exclusão. Assim, a pesquisadora e professora da Universidade Federal da Grande Dourados, Alexandra Santos Pinheiro, se dedica a demonstrar a complexidade dessas exclusões e o impacto das obras de autoria feminina em nossa sociedade.
Ao longo da história o conceito de “Cânone Ocidental”, termo associado ao crítico literário Harold Bloom, tem sido criticado por sua natureza exclusiva e elitista. Tal visão tradicional exclui uma seleção de obras vistas como fundamentais para a literatura escrita por mulheres, reforçando um entendimento limitado da literatura. A crítica literária feminista defendida pela pesquisadora Brigida M. Pastor, juntamente com a professora Alexandra Pinheiro e com o prefacio de Regina Zilberman e Mercedes Arriaga Flóres, propõe na obra “La Mujer de Letras” uma reavaliação do cânone, valorizando as contribuições únicas das mulheres que trazem narrativas inovadoras e que são capazes de transformar o entendimento literário e cultual a partir de novas perspectivas literárias e sociais.
Um exemplo notável da luta pela visibilidade é o uso de antologias para destacar o trabalho de autoras de diferentes épocas como, por exemplo, a obra “Escritoras brasileiras do século XIX”, organizado por Zahidé Lupinacci Muzart, em 1999, que reúne obras de mulheres que desafiaram as normas de suas épocas ao enfrentarem o esquecimento imposto por uma sociedade patriarcal. Essa antologia não apenas resgata textos esquecidos mas, também, garante que essas vozes sejam redescobertas e valorizadas no presente. Este processo de recuperação histórica é essencial para entender como as mulheres contribuíram para a literatura, mesmo em uma época de intensa repressão.
Além disso, editoras dedicadas exclusivamente a promover escritoras têm sido de vital importância para a valorização da autoria feminina. Assim, iniciativas como Des Femmes, na França, e a Editora Mulheres, no Brasil, oferecem plataformas em que autoras podem publicar suas obras assegurando, dessa maneira, uma representação mais ampla e equitativa no cenário literário.
A crítica literária feminista vai além de uma simples apreciação textual. Ela também desempenha um papel fundamental na análise e promoção das obras de autoras. Ao investigar temas, personagens e contextos únicos das mulheres essa crítica permite uma leitura mais rica e complexa das experiências femininas. Segundo A. S. Pinheiro, essas críticas, muitas vezes, revelam como as escritoras transformam suas vivências em reflexões sobre identidade, poder e exclusão. Embora haja avanços, a visibilidade das autoras ainda enfrenta desafios, especialmente entre aquelas de comunidades marginalizadas. A luta por representação é uma questão essencial na literatura contemporânea.
A promoção da visibilidade de autoras femininas na literatura é um passo fundamental para uma sociedade mais inclusiva e democrática. O trabalho das pesquisadoras e editoras mencionadas não só valoriza essas contribuições, mas também nos desafia a pensar sobre a literatura de maneira mais pluralista. Ao questionar o cânone e incluir uma diversidade de vozes, enriquecemos nosso entendimento cultural e social, construindo uma literatura que reflete, verdadeiramente, a complexidade da experiência humana, além de contribuir para um cenário literário mais justo e representativo.
REFERENCIAS
FIUZA, Adriana Aparecida de Figueiredo; PINHEIRO, Alexandra Santos; ARJONA, Encarnación Medina; MARCARIA, Maria de Fátima Alves de Oliveira (Org.). A crítica literária feminista ibero-americana. Campinas/SP: Mercado de Letras, 2023.
MUZART, Zahidé Lupinacci (org.). Escritoras brasileiras do século XIX: antologia. Florianópolis; Santa Cruz do Sul: Mulheres; EDUNISC, 1999.
PINHEIRO, A. S. Uma vida entre exílios: os desterros geográficos e subjetivos de Gregório Gurstonsky. Revista da Anpoll, v. 1, n. 41, p. 16–28, 30 dez. 2016.
PINHEIRO, Alexandra Santos; PASTOR, Brígida M. (Org.). A Mulher das Letras: cultura, memória e identidade / La Mujer de Letras: cultura, memoria e identidade. 1 ed. Campinas: Pontes, 2021.